No Sistema de Brasileiro de Classificação Brasileira de Solos (SiBCS), os Organossolos são definidos
por apresentarem horizontes de constituição orgânica (teor de carbono orgânico ≥ 80 g kg-1
). Esses
solos se desenvolvem em condições de saturação por água, permanente ou periódica, ou ambientes
de clima úmido, frio e vegetação altomontana. Os Organossolos Fólicos, encontrados em ambientes
altomantos de clima úmido e frio, preservam inúmeros proxies que fornecem informações sobre os
antigos ambientes ou climas. Dentre esses, os fitólitos, partículas de sílica que se formam nos tecidos
vegetais, se destacam por sua elevada persistência no solo. Como alguns morfotipos são específicos
de determinadas famílias e subfamílias, um conjunto de fitólitos (assembleia fitolítica) preservado no
solo pode caracterizar uma formação vegetal, e auxiliar na reconstituição de paleoambientes. No sul
do estado de Minas Gerais, são encontradas paisagens compostas por um conjunto de vales e serras
com condições particulares de temperatura e umidade que favorecem a formação de solos com
elevados teores de matéria orgânica, dentre esses, Organossolos Fólicos, que apresentam grande
potencial para estudos paleoambientais. Assim, o objetivo desse estudo foi discutir o potencial dos
fitólitos preservados no solo como registros de paleoambientes em Organossolos Fólicos no sul de
Minas Gerais. Os perfis foram morfologicamente descritos e caracterizados segundo o Manual de
Descrição e Coleta de Solo no Campo e o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS). Para
a análise de fitólitos em maior resolução, foram coletadas amostras em intervalos regulares de 10 cm.
A extração dos fitólitos foi realizada por meio de calcinação em mufla, e os morfotipos foram
identificados em microscópio óptico no Laboratório de Gênese e Classificação do Solo LGCS –
UFRRJ. Em cada lâmina foram contados, no mínimo, 200 fitólitos com significado taxonômico e/ou
ambiental, identificados conforme o Código Internacional para Nomenclatura de Fitólitos. Todos os
solos apresentaram preponderância de características decorrentes do material orgânico. Os
resultados da análise fitolítica dos perfis refletiram características relacionadas à gênese do solo,
condicionadas pela altitude e clima, que resultam em temperaturas baixas levando ao acúmulo de
matéria orgânica. As assembleias fitolíticas observadas nos primeiros centímetros dos solos (0 – 10
cm) corresponderam à assinatura fitolítica da vegetação atual. Observou-se uma alta porcentagem de
morfotipos característicos de regiões temperadas, frias e de altas elevações intertropicais, sobretudo
de Pooideae. Os índices fitolítos indicaram ambientes com vegetação aberta, com predominância de
gramíneas C3, sugerindo condições de clima frio e úmido, características dos ambientes
altomontanos. Este estudo traçou os primeiros esboços para uma caracterização paleoambiental das
regiões onde se inserem os perfis analisados.